
Uma entrevista recente do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, acendeu o sinal de alerta nos bastidores políticos da Paraíba. Ao ser questionado sobre uma possível saída do PP (Progressistas), o prefeito respondeu que não seria "empecilho" para disputar o Governo do Estado por outro partido, e que sua eventual filiação ao PSB seria um gesto de solidariedade ao governador João Azevêdo.
Mas a fala, para quem acompanha a política de perto, foi mais do que um gesto: foi uma senha. O que se interpreta é que Cícero já percebeu que o PP tem dono, e que esse "dono" tem nome e sobrenome: Ribeiro. Aguinaldo, Lucas, Daniela — é uma sigla com herdeiros definidos e espaço fechado para disputa interna.
No PSB, a história é outra: o governador tem controle, tem discurso e tem projeto. E esse projeto, naturalmente, pede um candidato ao governo vindo de dentro da própria legenda. Políticos ligados a João Azevêdo, como Pollyanna Dutra, já ensaiam esse argumento: "O PSB, partido do governador, precisa apresentar seu próprio nome". Não por acaso, os movimentos apontam para Cícero Lucena.
O tabuleiro sendo montado
Nos bastidores, especula-se que um acordo de composição já está sendo costurado: Cícero candidato a governador, Adriano Galdino na vice, João Azevêdo para o Senado, e possivelmente Veneziano Vital do Rêgo como segundo nome para a chapa majoritária, a depender das alianças em Campina Grande.
Esse desenho tem lógica: Veneziano não subiria no palanque de Lucas Ribeiro, que é do PP — partido diretamente ligado à família Ribeiro, com quem já teve atritos. O mesmo vale para os Cunha Lima. Ou seja, a costura política entre João Azevêdo, Cícero e os demais líderes pode passar, obrigatoriamente, por fora do PP.
Entre o discurso e o gesto
A fala de Messinho, como foi apelidado Cícero por aliados próximos, foi curta, mas suficiente para quem sabe ler entrelinhas:
"Não sou empecilho, mas estou com o governador. É um gesto de solidariedade."
Solidariedade? Com mais de 80 prefeitos aliados ao Governo do Estado, o governador está longe de estar isolado. O gesto, na prática, é mais pragmático que simbólico. Trata-se de alinhamento estratégico com quem tem máquina, apoio e projeto viável para 2026.
Cícero já atua como quem é pré-candidato: está nas cidades, entregando obras, fortalecendo aliados e promovendo nomes — como o vice-prefeito Léo Bezerra, recentemente chamado publicamente de "meu prefeito", num gesto que abre espaço para uma possível transição no comando da capital.
Final em aberto
A única certeza, até aqui, é que a movimentação não é à toa. Cícero não precisa sair do PP — mas vai sair, porque dentro do partido não tem espaço para disputar com Lucas Ribeiro, o nome da família para 2026.
Se a Paraíba vai comprar esse projeto ou não, só o tempo — e o eleitor — dirá. Mas o xadrez já está na mesa, e as peças estão se movendo.
Fonte: TV e Portal Sertão